EP 8 | Como são as festas de fim de ano no Brasil?

Olá, bem-vindo ao Fala, Gringo. Eu sou o Leni e criei esse podcast para ajudar você, estudante de português intermediário, a melhorar a compreensão da língua e conhecer melhor a cultura e sociedade brasileira. Você pode acompanhar este podcast com uma transcrição completa e gratuita. Acesse o link na descrição do episódio ou através do instagram: @portugues.com.leni.

Fala, gringo! Fala, gringa! Tudo bem? O que você sabe das festas de fim de ano do Brasil? Como devem ser as nossas tradições? Será que a gente troca presente? Que cores de roupa vestimos no Natal? O que se come na ceia? No episódio de hoje a gente vai descobrir tudo.

Do lado de cá, o clima de natal já está por todos os lados. E, quando falo de clima não quero dizer exatamente desse tempo frio que a maioria de vocês está habituada. Tô falando da ambientação, da atmosfera, as ruas cheias de luzinhas, guirlandas penduradas nas portas dos apartamentos; árvores montadas nas salas e dos restaurantes lotados com grupos em confraternização. 

Diferente de muitos países, no Natal do Brasil faz muito calor. É basicamente o início do verão e, em se tratando de um país tropical, o início do verão já é quente o bastante para derreter qualquer boneco de neve num piscar de olhos, quer dizer, muito rápido. 

Ainda em novembro, as ruas começam a ganhar elementos natalinos, especialmente as lojas e shoppings. Algumas cidades como Blumenau, em Santa Catarina, e Gramado, no Rio Grande do Sul, têm um Natal podemos dizer assim, mais caprichado. As prefeituras das cidades investem nisso para atrair o turismo no final de ano. Mas de um modo geral, eu diria que o brasileiro não se engaja tanto com o Natal a ponto de decorar exageradamente o exterior da sua casa, etc. Como eu falei antes, esse esforço é muito mais percebidos nos comércios, especialmente nos shoppings.

Para atrair os clientes, eles montam decorações e apresentações muitas vezes até exageradas. Para inaugurar a decoração de Natal, muitos shoppings contam com a Chegada do Papai Noel, um dos momentos mais esperados pelas crianças. Nesses momentos, os brasileiros não economizam na criatividade. 

Tem Papai Noel chegando de caminhão, de helicóptero e até de paraquedas. Em 2016, viralizou na internet brasileira um vídeo em que um Papai Noel estava chegando de Paraquedas a um shopping na Bahia, só que as coisas não saíram como previsto e o bom velhinho acabou caindo em cima de um dos carros  que estavam no estacionamento. Felizmente ninguém ficou ferido, mas o Papai Noel, esse com certeza, agora acredita que seria melhor ter chegado de trenó. 

E por falar em shopping, o comércio varejista nesta época fica uma loucura. Geralmente deixamos a compra de presentes para última hora e o resultado você já deve imaginar. Ruas lotadas, filas enormes… A gente chama isso de vuco-vuco, uma expressão pra dizer que tem muita correria. É um vuco-vuco danado! Em cima da hora quer dizer, no último momento. chegar em cima da hora para uma reunião é chegar exatamente no horário, quase atrasado. 

Dezembro é também o período em que os brasileiros ficam mais endividados, quer dizer, com dívidas. Como aqui é possível comprar com o cartão de crédito e dividir o valor das compras em 2, 4, 10 parcelas mensais, tem gente que aproveita para comprar presentes para todo mundo, mesmo que não possa. 

Já que (es)tamos falando de presente, que tal deixar uma avaliação de presente pro Fala Gringo lá no iTunes? Cada pessoa que deixa um comentário lá, além de ajudar o podcast a crescer, está ajudando também a outras pessoas do seu país a encontrarem o Fala Gringo mais facilmente. Se você encontrou o podcast por acaso por aí, muito provavelmente foi graças a alguém que colocou umas estrelinhas lá pra gente. Então que tal fazer o mesmo e ajudar essa comunidade a crescer?

Amigo Oculto, ou amigo secreto, é um dos maiores símbolos do Natal brasileiro. Se você não conhece esse jogo eu explico rapidinho. É basicamente um sorteio entre pessoas de um grupo. Cada uma escreve o seu nome num papel e depois os papéis são reunidos e sorteados aleatoriamente, ao acaso. Você terá que presentear a pessoa que você tirou no sorteio, mas ela só poderá saber no dia da troca de presentes.

Como os brasileiros são muito sociáveis, é normal que uma mesma pessoa participe de vários amigos secretos. Em casa com os familiares, no trabalho, no curso de idiomas e por aí vai… E o amigo secreto geralmente acontece na confraternização

Confraternização é, literalmente, o ato de confraternizar. Essa palavra nós usamos também como sinônimo de festa de fim de ano. É muito comum que as empresas reúnam seus funcionários para um grande evento, onde todos possam estar confraternizando, algumas fazem sorteios de brindes, distribuem kits natalinos. Mas também pode ser algo menor, como a confraternização do seu grupo de yoga, da igreja, enfim, um grupo de pessoas próximas.

Apesar de a troca de presente ser bem comum, ela não é a coisa mais importante do nosso natal. Aqui, a comida é o mais importante. À meia noite ou não, é a ceia natalina é o momento mais esperado. 

Geralmente se prepara um Peru ou um chester, um tipo de frango com menos gortdura e para acompanhar, alguns pratos típicos do período, como salpicão, farofa, arroz com passas entre outras coisas. Claro que ia ter arroz. Uma refeição brasileira sem arroz aí já é demais.

Ah, muito importante. A ceia natalina é servida no dia 24, próximo da meia noite. Claro, famílias em que há crianças inevitavelmente se serve a janta mais cedo.Cada um celebra suas tradições dentro de suas próprias particularidades. Muitas famílias além da ceia, servem também um almoço no dia 25, para os familiares que não puderam comparecer no dia anterior. 

No Natal ficamos mais solidários também. É comum que algumas famílias ou grupos ligados à igrejas ou empresas, realizem ações sociais, levando presentes, alimentação e entretenimento para comunidades carentes. Como a desigualdade no Brasil é muito grande, infelizmente o Natal não é a mesma coisa para todo mundo. Para muitas crianças a verdade sobre o papai noel é contada desde cedo, para a criança não criar muitas expectativas a respeito de um presente que muito possivelmente ela não vai poder ganhar. 

Uma coisa que eu acho muito legal e que acontece praticamente em todo o Brasil é que os Correios, o nosso serviço de entrega de correspondências, disponibiliza nas suas agências, quer dizer, nas suas lojas, uma parede cheia de cartinhas enviadas ao Papai Noel. Essas cartinhas são na maioria das vezes escritas por crianças pobres de escolas públicas, crianças que os pais não têm recursos para comprar os seus presentes.

Como somos um país majoritariamente cristão, a primeira referência quando se pensa em Natal é Jesus Cristo. O nascimento do menino Jesus é o grande destaque. Não por acaso, muitas residências montam pequenos presépios ou lapinhas, que é uma pequena cenografia representando o nascimento de Cristo, com a Maria, o José, os três reis magos, alguns animais, etc. Não é raro que nas escolas as crianças participem de alguma peça de teatro para encenar este momento. 

Diferente de alguns países, a indústria musical não se movimenta muito em torno do período. Aqui não temos cantores do pop lançando singles natalinos ou algo do gênero, como é comum nos Estados Unidos, por exemplo. Pode até acontecer, mas não é algo que faz parte da cultura natalina brasileira. Isso quer dizer que a gente não tem música de natal? Não necessariamente. 

Tem uma música que é muito conhecida durante o período, que toca em todos os lugares, especialmente nas lojas. Chega um momento em que é até insuportável. Eu vou tentar tocar aqui um trecho desse clássico natalino brasileiro para vocês, espero não ter problemas com direitos autorais. 

Ainda falando de música, outra tradição de Natal nossa é o Especial de Natal com Roberto Carlos na TV. Roberto Carlos é um cantor muito famoso no Brasil, que fez muito sucesso na década de 60. Então se tornou uma tradição de ter o show desse cara na TV na noite de Natal. Não é o tipo de música que eu gosto, mas tem muita gente adora. Especialmente as mães, avós e tias que viveram essa época. A época da jovem guarda, como costumamos chamar. 


Agora vamo(s) falar de Ano Novo, da festa de Reveillon à brasileira. 

Ano novo no Brasil é quase como o Natal, também reunimos amigos e familiares, só que com um pouquinho mais de festa e animação. Assim como na maior parte dos países de tradição ocidental, também comemoramos o Réveillon entre 31 de dezembro e primeiro de janeiro. 

É uma época em que muitos brasileiros viajam, especialmente para as regiões de praias. Sim, por que não tem coisa mais brasileira que passa a virada de ano réveillon na praia e assistir à queima dos fogos de artifício à meia-noite. Fogos de artifício, se você não pegou ainda, é o nome que damos para Firework. Eu mesmo já vivi essa experiência algumas vezes e realmente é muito legal.  Sem contar que a festa de ano novo se estende por toda a noite.

Como o Brasil herdou várias tradições das religiões de matrizes africanas e afro-brasileira, como o candomblé e a umbanda, é muito comum ver pessoas lançando suas oferendas ao mar na noite de réveillon. 

Oferenda, nas religiões afro-brasileiras, é o nome dado a sacrifícios, em que, assim como em outras religiões, os praticantes se desfazem de um bem material em homenagem a um Orixá ou entidade espiritual. No ano novo, as oferendas são para Iemanjá, a Orixá que é a Rainha dos Mares. Por isso as pessoas colocam as suas oferendas nos mares. Geralmente é um tipo de barquinho com flores, perfume, alguma fruta… E eles soltam aquilo no mar.

Integrantes do Centro de Umbanda Santa Rita da Bahia fazem rezas antes de lançar barcos ao mar na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, como oferendas para Iemanjá Custódio Coimbra/Agência O Globo

Mãe d’água, Rainha das Ondas, Sereia do Mar
Mãe d’água, seu canto é bonito quando tem luar
Como é lindo o canto de Iemanjá
Faz até o pescador chorar
Quem escuta a Mãe D’água cantar
Vai com ela pro fundo do mar

A influência dessas religiões nas comemorações de ano novo não param por aqui. Vestir branco para atrair paz no ano novo também é uma tradição herdada da religião. Acredita-se que começou na década 70, quando membros do Candomblé passaram a fazer suas oferendas na Praia de Copacabana; além da tradição de Pular SETE ONDAS, fazendo sete pedidos diferentes. É como começar o ano novo fazendo exercícios, né? Você pula uma onda e faz um pedido. Também é uma tradição que vem do Candomblé.

Agora que você já sabe como são as comemorações de fim de ano no Brasil,
eu volto para a Simoni. Então é Natal. E o que você fez. 


E aí, amigo ouvinte do Fala Gringo. Você realizou alguma daquelas resoluções que a gente costuma fazer no ano novo? Bom, eu não sei o que deve ter acontecido aí do outro lado, mas eu sei que você descobriu o Fala, Gringo, olha que legal.

Eu tô muito feliz de ter viabilizado essa ideia, de ter tirado essa ideia do papel. Tirei o Fala Gringo do Papel, coloquei no spotify, no apple music, no google podcasts enfim, em um monte de plataformas de streaming e os resultados disso é que hoje, o Fala Gringo já é ouvido com certa frequência em mais de 40 países. E olhe que estamos apenas no oitavo episódio!

No último episódio, a Shan deixou um comentário lá no meu Instagram que diz assim: Oi Leni, acabei de encontrar o seu podcast e amei. Sou inglesa, mas já morei no Brasil. Comecei a ouvir seus podcasts ontem, junto com os meus filhos que estão aprendendo o português. Eles nasceram na Inglaterra e só falam algumas palavras, mas com a sua ajuda, acho que vão aprender também. Parabéns pelo trabalho importante que você está fazendo. 

Shan, muito obrigado pela sua mensagem. Eu espero que em 2020 seus filhos possam progredir bastante no Português, você também e enfim, todo mundo que está acompanhando o podcast, afinal a ideia é essa. 

E, se depender de mim, isso vai acontecer sim. Tem mais ideia pra tirar do papel, mas isso eu falo pra vocês o ano que vem. Por hoje a gente vai ficando por aqui. Feliz Natal e Feliz Ano novo. Esse foi o Fala, Gringo, o seu podcast de português brasileiro. 

Vocabulário:

Caprichado: Que foi desenvolvido com cuidado, capricho ou esmero: congresso caprichado.
Engajar: Dedicar; fazer alguma coisa com dedicação e afinco: engajou-se no combate à pobreza.
Exageradamente: De maneira exagerada; em que há exagero ou exageração: comia, exageradamente, todos os dias.
Viralizar: Tornar viral; fazer com que algo seja compartilhado por um grande número de pessoas: a agência viralizou o vídeo; o vídeo da briga viralizou; aquela situação vergonhosa se viralizava pela internet.
Previsto: Que se consegue ou se pode prever (ver ou saber por antecipação).
Presentear: dar presente(s)
O próximo: o outro, aquele que se parece ou se assemlha.
Encenar: Organizar um espetáculo, representar.
Resoluções de ano novo: aquilo que se define como objetivo para o ano novo: perder peso, mudar de emprego, comprar um carro etc.

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