7 romances brasileiros para quem está aprendendo português

Já perdi a conta das vezes em que alunos e ouvintes do Fala Gringo me perguntaram: qual o melhor livro para começar a ler em português? Minha resposta sempre será a mesma: um livro que você já leu na sua língua materna e que gosta muito.

Agora se o interesse, de fato, são escritores e escritoras brasileiras, a pergunta fica um pouquinho mais difícil de responder. Como quase todas as questões, existe um grande DEPENDE.

Depende do vocabulário do leitor, depende do seu gosto literário e, principalmente, do seu poder de abstração. Sentir-se livre para continuar uma leitura mesmo quando não se compreende 100% das palavras e expressões usadas é fundamental.

Um romance não vai te ensinar a falar português, ele será apenas parte do processo.

Ainda assim, arrisquei indicar algumas obras que eu gosto, e que se passam em diferentes contextos e culturas. Isso quer dizer que possivelmente você vai encontrar variações do português falado em situações cotidianas ou na imprensa, tá bom? Mas tudo bem! Afinal, de quê serviria uma língua tão rica, diversa e viva como o português brasileiro, se não fosse pra enriquecer narrativas e ajudar a contar histórias com mais personalidade?

ATENÇÃO: Depois da sinopse, você encontra o link para uma amostra de cada livro no Google Books. Assim, descobre por si mesmo se a leitura é de fácil entendimento para você (ou não). 

1. CAPITÃES DA AREIA

Desde o seu lançamento, em 1937, Capitães da Areia causou escândalo: inúmeros exemplares do livro foram queimados em praça pública, por determinação do Estado Novo. Ao longo de sete décadas a narrativa não perdeu viço nem atualidade, pelo contrário: a vida urbana dos meninos pobres e infratores ganhou contornos trágicos e urgentes

“Capitães da Areia” acompanha meninos de rua na cidade de Salvador que se abrigam em um local abandonado em uma praia, e que cometem pequenos delitos para viver. Alguns dos personagens têm destaque, e é por meio deles que a história avança.

Pedro Bala é o carismático líder dos Capitães da Areia; Pirulito sonha em ser padre. Sem-Pernas guarda um rancor profundo da vida; Gato aplica pequenos golpes; Professor é o único menino do grupo que sabe ler, além de tem talento para desenhar; Boa Vida é um malandro; Volta Seca sonha em ir para o sertão e ser cangaceiro; e Dora, a única menina do grupo, que aparece no meio da história, transforma as vidas dos outros.

O livro aborda temas como miséria, violência urbana, e conflitos entre classes sociais, e antecipa um problema ainda atual: o abandono de crianças e sua exposição à marginalidade social e à criminalidade. E faz isso sem cair na ingenuidade ou maniqueísmo. Ao mesmo tempo em que retrata a vida dura das ruas, o abuso do Estado e da polícia, também apresenta a violência que os Capitães da Areia praticam em sua luta por sobrevivência. Envolve conflitos morais e éticos e também dá espaço a momentos belíssimos, cheios de emoção.

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2. QUERIA VER VOCÊ FELIZ

Neste livro, o Amor é quem narra a história real de Caio e Maria Augusta, pais da autora Adriana Falcão. Com uma linguagem poética e ao mesmo tempo muito bem-humorada, Adriana revela, através de cartas, aquilo que poderia ser descrito como uma história trágica protagonizada por dois personagens atormentados por seus demônios.

Apaixonados, Caio e Maria Augusta se casam no Rio de Janeiro da década de 1950 e têm três filhas. Todo o sentimento que eles compartilham não impede que a personalidade exuberante de Maria Augusta se torne mais obsessiva e asfixiante com o passar do tempo, apesar dos medicamentos e dos tratamentos psiquiátricos. Caio, por sua vez, aprofunda uma melancolia que existia nele desde a adolescência, e que culmina nos anos 1970 em tentativas de suicídio. 

Mais do que uma história com um final dramático, trata-se de memórias afetivas que alternam momentos de intensa felicidade e outros tantos de dor, como acontece nas melhores famílias.

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3. O MEU PÉ DE LARANJA LIMA

Esta é a história comovente de Zezé, um menino de seis anos nascido no seio de uma família muito pobre. Zezé é inteligente, sensível e criativo, mas muito endiabrado. Carente do afeto que não encontra junto do pai e da mãe, mais preocupados em sobreviver a cada dia, o menino perde-se nas ruas, onde só lhe dá para inventar travessuras.

Tendo aprendido demasiado cedo a dor e a tristeza, Zezé acaba por usar o mundo da sua imaginação para fugir da realidade da vida: toma por confidente um pé de laranja lima, a que chama Xururuca e ao qual revela os seus sonhos e desejos. Será nesta fantasia que Zezé vai encontrar a alegria de viver e a força para vencer as suas adversidades.

O Meu Pé de Laranja Lima é a obra maior de José Mauro de Vasconcelos, um dos grandes nomes da literatura brasileira. Um livro que urge descobrir, ou reencontrar, e que é aclamado como um dos mais importantes livros juvenis em língua portuguesa.

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4. FELIZ ANO VELHO

Livro que marcou toda uma geração de leitores e tornou-se obra de referência na literatura brasileira contemporânea.,

Publicado originalmente em 1982, o livro é um relato verdadeiro do acidente que deixou Marcelo tetraplégico, a poucos dias do Natal de 1979. Jovem paulista de classe média alta, vida boa, muitas namoradas, estudante de Engenharia Agrícola na Unicamp, ele vê sua vida se transformar num pesadelo em questão de segundos. Durante um passeio com um grupo de amigos, Marcelo, de farra, resolve dar um mergulho no lago. Meio metro de profundidade. Uma vértebra quebrada. O corpo não responde. Começa ali, naquele mergulho, a história de Feliz Ano Velho.

A partir do acidente, Marcelo vê sua vida mudar radicalmente. Seus dias no hospital, as visitas que recebeu, as histórias que viveu são relatadas sob uma nova perspectiva: a de um jovem que sempre fez tudo o que podia e queria, e que, agora, sentado em uma cadeira de rodas, vê-se impotente diante dos acontecimentos, dependendo da ajuda de amigos e familiares para reaprender a viver.

‘Apesar do tema trágico, Feliz Ano Velho – vencedor do Prêmio Jabuti e adaptado para o teatro e cinema – tem momentos de humor, ternura e erotismo. Marcelo se encarrega de colocar em palavras a relação de amor e respeito à mãe, o carinho das irmãs, a camaradagem e encorajamento da turma, as festas e as fantasias sexuais. O acidente no lago seria o segundo tranco na vida do garoto. O primeiro foi aos 11 anos: o ‘desaparecimento’ do pai – o ex-deputado federal Rubens Paiva – pela ditadura militar.

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5. EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS

No momento em que começa a narrar os fatos de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, o fotógrafo Cauby está se recuperando de um trauma numa pensão barata, numa cidade do Pará prestes a ser palco de uma nova corrida do ouro. Sua voz é impregnada da experiência de quem aprendeu todas as regras de sobrevivência no submundo – mas não é do ambiente hostil ao seu redor que ele está falando. O motivo de sua descida ao inferno é Lavínia, a misteriosa e sedutora mulher de Ernani, um pastor evangélico.

A trajetória do fotógrafo, dado a premonições e a um humor desencantado, vai sendo explicada por meio de pistas: a história de Chang, fotógrafo morto num escândalo de pedofilia; o mistério de Viktor Laurence, jornalista local que prepara uma vingança silenciosa; a vida de Ernani, que tirou Lavínia das ruas e das drogas no passado. Mesmo diante de todos os riscos, Cauby decide cumprir seu destino com o fatalismo dos personagens trágicos. “Nunca acreditei no diabo”, diz ele. “Apenas em pessoas seduzidas pelo mal.”

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6. CROCODILO

“Hoje, meu filho Pedro pulou da janela do seu apartamento.” Assim começa o romance de Javier A. Contreras, um relato ágil e surpreendente sobre o suicídio e a angústia dos que permanecem. 
Ao contar a história dos sete dias que se seguem à morte de Pedro, o autor embarca em uma narrativa única, que aborda temas como a relação pai-filho, o caos do mundo moderno e as expectativas que nutrimos e frustramos no decorrer da vida. 
Com uma linguagem moderna e de ritmo fluido, os sentimentos de Ruy, pai de Pedro, são trazidos à superfície em um misto de raiva e desolação. Ao perder o único filho, Ruy reavalia não só sua relação com a paternidade, mas com todo o mundo a sua volta.

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7. FIM

O livro focaliza a história de um grupo de cinco amigos cariocas. Eles rememoram as passagens marcantes de suas vidas: festas, casamentos, separações, manias, inibições, arrependimentos.

Álvaro vive sozinho, passa o tempo de médico em médico e não suporta a ex-mulher. Sílvio é um junkie que não larga os excessos de droga e sexo nem na velhice. Ribeiro é um rato de praia atlético que ganhou sobrevida sexual com o Viagra. Neto é o careta da turma, marido fiel até os últimos dias. E Ciro, o Don Juan invejado por todos – mas o primeiro a morrer, abatido por um câncer. São figuras muito diferentes, mas que partilham não apenas o fato de estar no extremo da vida, como também a limitação de horizontes. Há graça, sexo, sol e praia nas páginas de Fim. Mas elas também são cheias de resignação e cobertas por uma tinta de melancolia. 

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