4.16 Sobrevindo às eleições 2022

Em 30 de outubro deste ano, 2022, a maioria dos brasileiros que votou decidiu não dar uma nova chance ao presidente Jair Bolsonaro. O primeiro presidente a não ser reeleger desde a redemocratização. Quem ganhou mais uma chance foi o Lula, que já presidiu o país de 2003 até o final de 2010, e a partir de 2023 volta para um terceiro mandato.

O resultado foi super apertado. Lula venceu com 51% dos votos válidos, contra 49% de Bolsonaro, uma diferença de cerca de 2 milhões de votos, apenas. É muito pouco considerando a população de votantes esse ano, que foi de 124 milhões. O resultado oficial mal tinha sido divulgado, e já tinha gente nas janelas gritando de alegria, outros em plena fúria. É que o Brasil tá assim mesmo. Mais que dividido, polarizado

No episódio de hoje, convido vocês a ouvirem as minhas impressões sobre as eleições 2022 no Brasil. Como foi, para mim, acompanhar essa disputa, entender algumas das questões que estiveram no foco do debate público durante o período, e quais as expectativas para a posse do novo presidente eleito. 

Essa temporada tem o apoio de Ramon Escamilla, Bruce Moffat, Eric Olson, Ashley Watson, Claudia Kimmel, Anthony Pucci, Stephen Maxon, Yanelsis Gómez, Catherine Barker, Joao Dedecca, Cecilia Goransson, Daniel Gilbert, Rachel Skinner, e Emiliya Vitkosvskaya, 

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Aqui estou eu com o desafio de narrar um pouco do que foi esse caos pelo qual passamos e, de certa forma, ainda estamos passando, porque até a posse do novo presidente, muita coisa ainda pode rolar. Vocês vão entender ao longo do programa. Mantendo meu compromisso com a informação, com dados, estou disponibilizando todos os links e referências sobre as informações que vou passar aqui, na página do episódio no site do Fala Gringo, beleza? Não precisa ter acesso à transcrição para conferir.

Eu abri o episódio dizendo que mal via a hora das eleições passarem e não foi apenas uma expressão, não… É que foi exaustante presenciar tudo isso. E mais que cansativo, foi de certa forma perigoso. Acho que a violência política foi um dos grandes destaques dessas eleições, sem dúvida. 

Segundo uma pesquisa da Unirio, divulgada pela CNN Brasil, os casos de violência política até o primeiro turno cresceram 110% em todo o Brasil, ou seja, mais que dobraram. E essa violência envolvia não apenas candidatos ou pré-candidatos às eleições, mas também eleitores. 

Aqui no Recife, onde eu vivo atualmente, a fachada de um prédio foi alvo de tiros porque um morador pendurou a bandeira do PT (Partido dos Trabalhadores*) na sacada. Em julho deste ano, 2022, um bolsonarista invade a festa de um petista, trocam tiros, ambos morrem. Facadas, pedradas, vandalismo? Tivemos a perder a conta. Dias antes das votações para o primeiro turno, um jornalista provoca a deputada bolsonarista Carla Zambeli que, ofendida com a situação, se sente no direito de perseguir o homem à mão armada. Até tiro pra cima houve. Veja o buraco em que estamos. 

Não é a minha intenção aqui dizer que a violência entre os eleitores é sempre causada por um bolsonarista. É muito mais complexo, são muitas camadas, e se você procurar, acha petista que foi agredido, bolsonarista que foi agredido, enfim… Mas é um fato que esse discurso de ódio, esses conflitos e brigas nas ruas aumentaram bastante desde que o Bolsonaro disputou em 2018. Ele mesmo foi alvo de uma facada na reta final da campanha naquela época. Depois de muita investigação, chegou-se a conclusão de que o autor da facada tinha problemas psicológicos e que não estava executando o crime a pedido de ninguém. Eu sempre achei essa história mal explicada, mas enfim, é o que temos até então.

Mas como eu dizia, é evidente que esse cenário de hostilidade foi potencializado sobretudo com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, porque é da personalidade dele esse discurso violento, ríspido e desrespeitoso. E isso fica ainda mais claro quando a gente para pra analisar o histórico. O Lula está disputando eleição presidencial desde 1989, já disputou com candidatos diversos, e nunca se chegou a esse nível de polarização, de agressividade entre candidatos e eleitores, mesmo quando a disputada foi apertada. E aí vem o Bolsonaro em 2018, e nos discursos ele usa um tripé de câmera para simular uma arma de fogo e diz que vai metralhar* os oponentes, quer dizer, matar com uma metralhadora. É um discurso muito forte para um candidato a presidente numa democracia, né?

*NOTA: Na verdade, Bolsonaro usou o verbo FUZILAR, que vem de fuzil, e não metralhar, conforme citado. My bad!!! 

O ponto é que Bolsonaro não sabe tratar oponentes como adversários, ele trata como inimigos. Ele é armamentista, autoritário, ele manda repórter calar a boca, leva perguntas jornalísticas para o lado pessoal e agride a imprensa verbalmente. Foi um presidente muito duro com a mídia, quando tinha que responder questões sobre corrupção envolvendo o seu governo e seus filhos, ou sobre a sua atuação durante o período de pandemia. Eu gravei um episódio sobre isso aqui no Fala Gringo, vocês podem conferir os detalhes depois. 

Enfim, o que eu entendo é que quando a gente tem uma pessoa dessa sentada na cadeira da presidência do país, com discursos violentos, isso de alguma forma legitima, quer dizer, torna legítimo, aceitável esse comportamento, essa forma de lidar com as adversidades, com o pensamento diferente. 

Mas voltando a falar sobre esse clima de tensão, no dia das eleições, havia também toda uma preocupação de você não usar cores do partido pra ir votar, com receio de sofrer alguma agressão ou, no mínimo, ser provocado nas ruas. Antes disso, a preocupação era com outros tipos de manifestação de apoio. Muita gente deixou de colocar uma bandeira na janela de casa com medo de episódios como esse tiro na sacada aqui em Recife. Até mesmo nos carros, que aqui no Brasil a gente gosta muito de colocar adesivos nos carros em apoio aos candidatos; muita gente preferiu não colocar nada do PT para não ter o veículo vandalizado, riscado ou vidros quebrados. 

Por outro lado, os bolsonaristas desfilavam muito à vontade com as suas bandeiras em automóveis, ora mostrando o rosto do Bolsonaro, ora exibindo o seu patriotismo com a bandeira nacional, nas cores verde e amarelo. E isso aí é outra coisa que marcou bastante não só essa eleição como a eleição de 2018 que foi a apropriação da bandeira do Brasil por esses grupos bolsonaristas. 

Era e ainda é muito comum, sobretudo nas grandes cidades, você perceber bandeiras do Brasil estendidas nas sacadas dos prédios, como uma forma de mostrar apoio ao Bolsonaro. Nesses últimos 8 anos o bolsonarismo se apropriou não só das bandeiras, mas das cores verde e amarelo. E isso foi num nível tão exagerado que se criou uma rejeição à camisa de futebol amarela que tanto foi usada nos atos pró-Bolsonaro nas inúmeras vezes em que ele convocou os simpatizantes a irem às ruas demonstrar apoio ao seu governo. 

Foi assim que, pouco a pouco, as cores verde e amarelo, aquelas que representavam a  excelência do futebol brasileiro, as cores do capacete do piloto Ayrton Senna, essas cores passaram a representar eleitores com diversas pautas conservadoras, um grupo muito diverso, mas com um líder em comum.

No português a gente usa a palavra bandeira também no sentido de causa, de ideia que se defende. Então quais são as bandeiras do bolsonarismo? Quais são as causas que essas pessoas defendem? 

De uma forma mais superficial, eles falam bastante no lema “Deus, Pátria e Família“. Ou seja, é um eleitorado religioso, tem muitos evangélicos/protestantes, mas não são todos evangélicos, certo? É também um eleitorado que se diz patriota e conversador; e é também um eleitorado que defende os valores da família tradicional. Isso olhando de forma superficial. Muitas dessas pessoas que repetem esse lema nem se quer sabem que é um lema criado pelo fascismo. Até porque a desinformação é o principal combustível do bolsonarismo mesmo. 

Só que olhando as manifestações em apoio ao Bolsonaro, você entende que há muito mais camadas ideológicas nesse eleitorado, que vai além dessa simplificação Deus-Pátria-Família. Tem gente pedindo intervenção militar, fechamento do Supremo Tribunal Federal, descredibilizando o sistema de votação do Brasil, as urnas eletrônicas.  Tudo isso com base em desinformação e teorias da conspiração alimentadas nas redes bolsonaristas, sobretudo no Whatsapp e Telegram. 

A disputa eleitoral – Primeiro e Segundo Turnos

Depois de uma campanha esvaziada de debates propositivos, uma campanha cheia de fake news, acusações, muitos candidatos disputando a eleição, mas só Lula e Bolsonaro se mostrando competitivos, na frente das pesquisas, a disputa segue sem nenhuma surpresa: os dois (Lula e Bolsonaro) vão para o segundo turno.

Mas tem uma coisa que acontece aí que é muito boa pra o Bolsonaro que é a imprecisão das pesquisas de opinião de voto no primeiro turno. As pesquisas apontavam Lula bem mais à frente do Bolsonaro, algumas falavam até na possibilidade de o Lula ser eleito no primeiro turno. Mas o resultado foi bem apertadinho. E isso era tudo que o Bolsonaro precisava pra endossar o seu discurso de que havia um complô contra sua candidatura, que tá todo mundo contra ele: centros de pesquisa, a mídia nacional e internacional, o Supremo Tribunal Federal e o próprio Tribunal Superior Eleitoral. 

Então vamos pra o segundo turno. Quase mais um mês de campanha. Ninguém aguentava mais. Ninguém aguentava mais tantas ofensas, guerra de fake news, climão nos almoços em família, familiares deixando de se falar, as militâncias nas redes pegando fogo e aquele sentimento geral de cansaço, de “quando isso termina, hein”? 

Virou uma eleição extremamente emocional, marcada pelo medo. O medo de Bolsonaro continuar presidindo o país, com esse temperamento autoritário, os acenos antidemocráticos e uma gestão reprovada e pela maioria dos brasileiros, contra o medo de Lula voltar a presidir o país, depois de tantos escândalos de corrupção durante as últimas gestões do PT. 

Vale lembrar que o Lula não pode concorrer as eleições de 2018 porque estava preso por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Lula passou um ano e meio preso em Curitiba, até que em 2021, ano passado, as condenações foram anuladas por uma série de fatores. Um deles dizia que o processo de Lula deveria ter sido conduzido desde o início em Brasília e não pela justiça do Paraná. 

Outro ponto é que em 2021, tempos depois da condenação de Lula, o jornal norte-americano The Intercept Brasil teve acesso a mensagens e áudios de procuradores do caso de Lula, no Telegram, e descobriram que o Sério Moro, juiz que estava julgando o Lula mantinha grupos e conversas com os procuradores, avisando sobre os próximos passos da operação e facilitando a condenação de Lula. Vários trechos de conversas e áudios foram vazados, num episódio que ficou conhecido como Vaza Jato

A parcialidade do juiz fez surgir muita pressão na opinião pública e sobre a legitimidade de Moro ao conduzir o caso. Vale lembrar ainda que após Lula ser impedido de disputar a eleição, o maior beneficiado com isso foi o Bolsonaro, que ficou sem um oponente à altura na época. Antes mesmo de vencer a eleição, Bolsonaro já sinalizava que o então Juiz Sergio Mouro seria convocado a ser o seu Ministro da Justiça, o que se confirmou já no primeiro mês do governo. 

Bom gente, eu tenho que abrir muitos parênteses, porque senão quem não acompanha a política pode ficar perdido né, mas voltando à disputa em 2022, tirando os eleitores mais entusiastas, aqueles que idolatram políticos mesmo, o fato é que parecia haver mais gente votando pela rejeição ao oponente do que por acreditar no seu candidato.

Aqui no Fala Gringo eu já falei muito pra vocês do meu orgulho de ser brasileiro, do meu amor pelo país. Mas esse assunto, da política nacional, é justamente uma das coisas que mais me entristece no país. Tem uma citação do antropólogo Darcy Ribeiro que traduz muito bem esse sentimento, ele diz assim “Tenho tão nítido o Brasil que pode ser, e há de ser, que me dói o Brasil que é.”

E, olha, dói mesmo, viu? Dói ver um Brasil que tem tanta gente desempregada, que voltou ao mapa da fome, com índices de educação horríveis, um país onde as pessoas dormem nos corredores dos hospitais à espera de uma maca para ser internado; e a gente acompanhar uma disputa pela presidência do país onde os candidatos não conseguem reservar a grosseria apenas para uma parte da disputa, do debate público. Eles não conseguem discutir de fato os problemas e possíveis soluções para o Brasil que é o que realmente importa. E a disputa seguiu assim, nesse nível baixo até o fim, e com os eleitores, obviamente, comprando essas brigas. 

Bom, percebendo-se sempre atrás do Lula nas pesquisas de intenções de voto para o segundo turno, o Bolsonaro partiu para o tudo ou nada. Liberou verbas para deputados durante o período eleitoral; usou a máquina estatal como poucos presidentes fizeram antes; adiantou pagamento de auxílios sociais para dias antes da eleição também; manteve a propaganda do governo durante o período – o que é irregular; colocou até a Polícia Rodoviária Federal para atrapalhar o deslocamento de eleitores que se locomoviam de ônibus em algumas cidades do Nordeste, onde Lula era predileto

Como uma última cartada, Bolsonaro buscou apoio pra pedir adiamento da eleição, justificando que spots de rádio da sua campanha não estavam sendo veiculados em determinadas cidades do interior do Brasil. A história não convenceu a opinião pública, nem a justiça, princialmente porque muitas rádios alegaram que o próprio partido do Bolsonaro não enviou o material para ser transmitido e caberia ao partido mesmo a fiscalização das veiculações, e não à justiça eleitoral.  

Com Bolsonaro chamando Lula de ladrão ao vivo, e Lula chamando o oponente de genocida, ambos os candidatos passaram eleição inteira dando voltas para contornar perguntas sobre corrupção em seus governos e alianças controversas. Bolsonaro tentando convencer os brasileiros de que tá tudo bem por aqui, apesar de que ainda poderia melhorar; e o Lula, por sua vez, dizendo que em seu governo o Brasil voltará a ter  estabilidade e o respeito dos anos em que era governante. 

Aí chega o 30 de outubro de 2022. O dia que durou um ano. 


Eu viajei para a cidade dos meus pais, onde eu voto, e me preocupei de vestir uma roupa neutra, claro, que não denunciasse a minha intenção de voto. E logo após votar, já peguei um ônibus de volta pra o Recife, pra chegar bem antes dos resultados serem divulgados. É que aqui, como as urnas são eletrônicas, o resultado sai no mesmo dia. E com esse clima de violência política, eu queria ter certeza de que estaria em casa seguro caso houvesse algum tumulto nas ruas ou estradas. 

CNN BREAKING NEWS: São sete horas e cinquenta e sete minutos (19:57), nós temos imagens ao vivo de São Paulo. Nós já temos a definição. Eleito Luis Inácio Lula da Silva para o seu terceiro mandado à frente da presidência da república do Brasil. 

Imediatamente, o presidente da Câmara dos Deputados, que é parceiro de Bolsonaro, reconheceu a vitória de Lula como legítima. Na sequência, veio o presidente do Senado, depois a presidente do Supremo tribunal Federal e outros órgãos. Tudo isso foi feito como uma forma de blindagem, que dizer, de proteção. A ideia era fazer o Bolsonaro se sentir isolado, caso ele questionasse o resultado das urnas, como já havia sinalizado que faria em outros momentos. Desde 2018 que Bolsonaro afirma, sem apresentar provas, que as eleições no Brasil foram fraudadas. Segundo o presidente, naquela ocasião ele teria vencido já no primeiro turno, não fosse as fraudes nas urnas eletrônicas. 

Bem, todo mundo se pronunciou sobre a vitória do Lula. Exceto, o Bolsonaro. Ele desligou as luzes do Palácio da Alvorada, a casa oficial do presidente e, naquele dia, foi dormir cedo. Com a ajuda de quantos comprimidos ninguém sabe. 

Ficou em silêncio por 2 dias. Seus apoiadores, diante da quietude do líder, já endossavam na internet os pedidos de intervenção militar, anulação das eleições e outras pautas antidemocráticas e anticonstitucionais. Caminhoneiros, também apoiadores do presidente fizeram protestos, paralisando atividades e fechando rodovias com pneus queimados por todo o país. Ligou um sinal de alerta

O Brasil pegando fogo, literalmente, e o presidente lá, calado. Até que ele decide se pronunciar, dois dias depois, num discurso breve de 2 minutos, sem direito a perguntas. Naquele momento, havia mais de 600 obstruções de estradas

Bolsonaro não cumprimentou o presidente eleito, não reconheceu a derrota e fez uma alusão aos bloqueios das estradas, chamando de movimentos populares. A fala foi ambígua, quer dizer, com duplo sentido, como uma senha que nas entrelinhas afirmava que seus apoiadores deveriam liberar as estradas, mas continuar com as manifestações de outra forma. Isso aconteceu num momento em que já estavam vários mercados sem abastecimento, hospitais sem receber insumos, pessoas impedidas de chegar em postos de saúde, no trabalho…

E aí os apoiadores ouviram. Saíram das rodovias e foram para as portas dos quartéis do exército. Os pedidos são os mesmos: intervenção militar, anulação das eleições. E Bolsonaro segue calado até agora. Desde a derrota, fala por meio dos filhos, nas redes sociais, sempre com mensagens enigmáticas. Os apoiadores esperam o momento da grande revelação, o grande momento em que o Bolsonaro vai virar o jogo, trazer um fato novo à tona e mudar tudo.

O desafio, para o presidente,  é encontrar equilíbrio entre manter esses manifestantes nas ruas para mostrar a sua força política; mas ao mesmo tempo não dar a entender que ele está incentivando que essas pessoas perturbem a ordem pública, bloqueiem as estradas, afinal, ele pode ser responsabilizado criminalmente por isso. 

A preocupação de vários setores da sociedade é que aqui a gente tenha um episódio parecido com a invasão do capitólio nos Estados Unidos e existe uma grande tensão para a posse de Lula no início do ano. Que vai haver manifestação contra, isso é fato. Cabe esperar pra ver se será um evento pacífico ou se vai ter confusão. 

Bom, queira Bolsonaro ou não, reconhecendo a vitória ou não, no dia primeiro de janeiro, Lula assume a presidência, com um país dividido pra unir. A pergunta é: será que ele consegue? 

O novo governo terá muitos desafios para resolver: fome, inflação, crise mundial batendo à porta, sem falar do novo congresso eleito, que tem a maioria dos senadores e deputados alinhados ao bolsonarismo

Enquanto Bolsonaro permanece calado, Lula já começa as suas atividades como presidente, antes mesmo de assumir. Foi a conferência do Clima da Onu, no Egito para falar de meio ambiente, uma pauta que foi muito negligenciada no governo Bolsonaro, sobretudo em relações as questões da Amazônia e dos povos originários. Inclusive no dia seguinte à eleição de Lula, a Noruega já liberou o fundo de 5 bilhões de coroas norueguesas para a preservação da Amazônia. 

A verba estava bloqueada durante o governo Bolsonaro, porque a Noruega não via compromisso da gestão com o meio ambiente. Até mesmo o mercado financeiro e bolsa de valores já reage às falas do futuro presidente. 

Vitória da Democracia

É isso gente. Que bom que você chegou até aqui. O que eu posso dizer é que, por hora, a vitória não foi do Lula. A vitória foi da democracia. 

O meu desejo, do fundo do meu coração, era que a gente não tivesse ficado nessa dualidade. Que tivesse surgido uma alternativa viável e que as eleições corressem dentro do mínimo de normalidade. O meu desejo também era dizer pra vocês, de forma bem enfática, que o Brasil escolheu não seguir com um presidente que debochou das mortes causadas pela COVID 19, negando a compra de vacinas, e imitando pessoas morrendo com falta de ar. 

Eu queria dizer pra vocês que aquele presidente que destruiu órgãos ambientais que protegiam as nossas florestas; que incitou violência contra os povos originários; que por tantas vezes falou de um Brasil como se o país inteiro vivesse no luxo foi esculachado. Eu queria dizer que os brasileiros deram um pé na bunda, quer dizer, se livraram desse presidente. Que o colocaram na lata de lixo da história. Afinal, desde a redemocratização, não tivemos lideranças distintas, com diferentes posições e diferentes visões politicas. Mas nenhum foi tão desumano como o Bolsonaro.

Mas não… No segundo turno, Bolsonaro foi o candidato que mais cresceu em intenções de voto com relação o que já tinha. Ele conseguiu a proeza de sair maior dessa eleição do que a eleição de 2018, com mais votos. Do primeiro para o segundo turno, Bolsonaro conquistou mais 7 milhões de votos. Enquanto Lula, só conseguiu subir mais 3 milhões, isso porque tinha o apoio de toda uma frente ampla, trazendo para o seu lado, lideranças de direita, ex-oponentes históricos e até ex-presidentes.

No seu primeiro discurso de agradecimento, a primeira pessoa a quem cumprimentou publicamente e agradeceu o apoio foi a senadora Simone Tebet, que havia concorrido no primeiro turno e se juntou à campanha de Lula no segundo turno. Ela teve apenas 5% dos votos, mas além de transferir votos da direita, ela trouxe aquela sensação para muitos eleitores racionais e que ainda estavam indecisos, de que não havia uma opção de direita viável e democrática, porque o outro lado era o Bolsonaro. 

Eu queria dizer que agora tá tudo bem, e a gente pode respirar aliviado, mas foi por tão pouco que ainda é assustador, e esses apoiadores ainda continuam na porta dos quartéis pedindo intervenção militar. É complicado, né? 

Porém, por que haveríamos de estar tristes? O mar da história é assim mesmo, agitado. Por ora, a democracia venceu.  

Lula: A partir de primeiro de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras e não apenas para aqueles que votaram em mim.  Não existe dois brasis, somos um único país, um único povo, uma grande nação. 

Esse foi o Fala Gringo, o seu podcast de português, cultura e sociedade brasileira. Até o próximo episódio.

Vocabulário:

Mandato: período de exercício de um cargo eleitoral
Polarizado: Aquilo que está em lados opostos. Na política, polarização refere-se a eleições que se concentram em 2 candidatos apenas.
Sacada: extensão de um edifício, usada como área de lazer ou jardim
Bolsonarista: Apoiador do Bolsonaro
Petista: Apoiador do partido dos trabalhadores – PT
Hostilidade: característica de quem é hostil, grosso, competidor e agressivo.
Ríspido: grosseiro, rude, intratável
Apertado: muito unido ou próximo; espaço reduzido. No contexto do episódio, indica que houve pouca diferença no número de votos entre os dois candidatos, foi uma eleição apertada.
Tripé de câmera: Objeto utilizado para apoiar a câmera. Ver aqui.
Oponentes: Aqueles que se opõem, adversários
Armamentista: Que defende o uso de armas
Agredir: praticar agressão contra alguém, insultar, machucar, ferir
Adesivos: papel ou plástico que pode ser fixada/colada a uma superfície
Vandalizar: agir com vandalismo, causar dano à propriedade público ou privada
Riscar: fazer um risco, uma linha. Arranhar com um objeto pontiagudo um carro.
Estender: alongar um objeto sobre uma superfície (estender uma toalha na mesa, um lençol sobre a cama). Tem também o sentido de aumentar: o tempo de espera foi estendido para 10 minutos.
Apropriar: tornar próprio, tomar posse
Desinformação: informação falsa, dada no propósito de confundir ou levar ao erro.
Esvaziar: tornar vazio, sem conteúdo
Propositivo: que propõe, que se disponibiliza a apresentar propostas
Endossar: apoiar, transferir um direito a alguém.
Aguentar: suportar, ser capaz de lidar com…
Climão: gíria para situação desconfortável, clima desconfortável
Parcialidade: qualidade do que é parcial, tem lado/posicionamento
Legitimidade: qualidade do que é legítimo, verdadeiro
Senão: caso contrário, ao contrário
Nítido: aquilo que se pode ver com clareza, com transparência.
Maca: objeto que cumpre a função de cama para transporte e acomodação de pessoas doentes
Partir pra o tudo ou nada: ir ao extremo, tentar de tudo
Predileto: favorito, preferido
Adiamento: adiar, postergar, mudar para o futuro
Alegar: dizer, afirmar, fazer uma alegação
Tumulto: confusão, desordem, briga, correria
Fraudes: ato enganoso, de má fé, com o intuito de enganar alguém; falsificação de produtos
Anular: tonar nulo, cancelar
Obstrução: no contexto do episódio, significa bloqueio, impedimento.
Alusão: comparar, fazer uma referência rápida
Entrelinhas:
Insumos: cada um dos elementos necessários para produzir algo ou realizar um serviço
Rodovia: estradas, autoestrada, autopista
Trazer à tona: revelar, mostrar
Enfático: com ênfase, com destaque

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